quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Temos o direito ou a obrigação de viver?

Uma pergunta frequente quando converso com alguém sobre o meu acidente e o fato de viver em uma cadeira de rodas, é se eu já tive depressão e se já pensei em me matar. A resposta? Sinceramente? Já, várias vezes.

A primeira delas e a mais clara na minha cabeça, foi quando eu ainda estava no hospital, alguns dias após o acidente e sem ter a menor noção do que tinha acontecido. Lembro de falar para o meu pai que eu não estava mais aguentando, que preferia morrer. Depois, existiram algumas situações específicas que me deixavam mais deprimido, sem vontade de continuar. Todas bem no início, ainda na fase de adaptação a nova vida.

Acredito que praticamente todas as pessoas que sofrem algum acidente grave ou que enfrentam uma mudança brusca, repentina na vida, passam por isso. Tudo dependerá muito da estrutura da pessoa, da base para suportar tal trauma, e de como lidará com a situação, que não é nada fácil.

No meu caso, a religião, ou melhor, a espiritualidade e a família foram fundamentais. Aprendi e entendi que tudo na vida tem um propósito. Que não adianta fugir das responsabilidades. Deus sabe o que faz, basta sabermos aproveitar cada situação que nos é apresentada e tirarmos o melhor dela.

Mas o real motivo por eu tocar neste assunto, foi uma matéria que vi recentemente sobre um homem que assassinou o irmão tetraplégico e agora pede clemência da justiça, alegando ter feito tal ato a pedido do próprio irmão deficiente.

O caso, além de polêmico, é extremamente delicado. Roberto Rodrigues é réu confesso do assassinato de Geraldo Rodrigues, seu irmão mais velho, tetraplégico, de 28 anos. O caso aconteceu em Rio Claro (SP). Geraldo, que já tinha um filho deficiente físico, ficou tetraplégico após um acidente de carro, quando estava apostando um racha com Roberto. A história é complexa pois envolve todo um histórico familiar, difícil de entender por não convivermos com eles. O fato é que Geraldo, que culpava Roberto pela sua situação, teria pedido ao irmão que o matasse, tendo inclusive planejado como seria feito o assassinato, simulando um assalto para que Roberto não fosse preso.

Culpado? Inocente? Difícil chegar a uma conclusão definitiva, pois ambos os lados, tanto os que defendem que Roberto seja condenado, como os que o inocentam, têm bons argumentos. Eu particularmente e pelo pouco que conheço da lei, acho que ele seja culpado, independentemente de ter atendido o pedido do irmão, mas também acho que ele não deva ser preso e sim submetido a penas especiais, como prestação de serviços comunitários por exemplo.

O caso traz a tona outra polêmica, a do uso da eutanásia. Coincidentemente, há poucos dias assisti ao filme “You Don’t Know Jack”, que conta a história do médico americano Jack Kevorkiam, conhecido como Dr. Morte por defender a eutanásia e ter “matado” mais de 130 pacientes durante a década de 90. No filme, Jack analisava cada paciente para saber se seria mesmo necessário o procedimento. Segundo ele, em 90% dos casos ele negava tal medida por considerar que os pacientes sofriam apenas de depressão, não estando em fase terminal. Não sei o que o Dr. Morte recomendaria a Geraldo, pela idade, acredito que ele teria seu pedido negado pelo médico.

O tema é extremamente delicado. Pretendo acompanhar de perto para saber o que a justiça decidirá a respeito de Roberto. Acredito que se for a Júri popular, com uma boa defesa, ele será inocentado pelo fator emocional. Nos Estados Unidos, o Dr. Morte foi condenado a cumprir até 25 anos de prisão, saiu após cumprir 8 anos e a se comprometer a não auxiliar mais nenhum paciente ao suicídio.

Complicado não? Pois é, mas se tem uma coisa que aprendi na vida, é a nunca, jamais julgar as atitudes alheias sem saber o que se passa por trás de cada pessoa. Todos temos uma história de vida e sabemos onde as dificuldades são maiores. Portanto, ao invés de julgar, ajude. Garanto que a recompensa será muito maior.

“Entender a vontade de Deus nem sempre é fácil, mas crer que ele está no comando e tem um plano para a nossa vida, faz a caminhada valer a pena.” 

Na vitrola:

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